A Nuvem

Uma nuvem espessa cai sobre mim, não estou conseguindo ver mais nada, não tenho a menor ideia de onde estou, vultos ainda passam por mim, espere, estou vendo uma porta crescendo em minha direção, parece-me coisa de cinema, agora sinto-me passando por ela, a névoa parece se dispersar, começo a ver alguma coisa, não sei bem o que é, e, continuo vendo com mais nitidez, parece-me que são árvores frondosas, cada vez mais visíveis, uma criança negra do nada aparece como mágica, homens e mulheres da mesma cor estão por toda parte, um indivíduo alto e forte surge no meio dum terreiro grande, pessoas se aproximam dele, na verdade ele deve ser o chefe, ninguém está percebendo a minha presença, porque sou invisível, com o poder de ver, ouvir e sentir cheiro.

Pois é, desta maneira começo a ouvir o que o chefe está dizendo, todavia, infelizmente, não estou entendendo nada, a língua, com toda a certeza, é própria dos escravos que vieram da África, enfim, todos demonstram no rosto uma grande alegria, enquanto ele fala, velhos, adultos, jovens e crianças estão todos à sua volta, um clima de muita paz toma conta do momento, a aldeia está totalmente tranquila, embora na entrada, guardas tomam conta, com lanças afiadas nas mãos, prontos pro ataque, estou começando a entender onde estou realmente, uma aldeia no meio de uma imensa mata com uma população negra só pode ser... epa! um estrondo de canhão põe todo mundo pra correr, é uma guerra, os guereiro tomam seus postos de defeza, e, desta vez conseguem expulsar os invasores, o homem que falava antes é o líder realmente, no meio da aldeia grita com muita força algo que me parece, Vitória, vitória!, e os comandados, Zumbi, Zumbi, Palmares, Palmares!, não tenho a menor dúvida de que estou no Quilombo de Palmares na Serra da Barriga, Capitania de Pernambuco, Brasil, em pleno século XVII. São 18:21. [ss]

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