Mar de Morros


São 17:46, o portal está se abrindo, estou vendo uma paisagem muito familiar, ou seja, um mar de morros e, bem no horizonte,  enormes 
serras, bem como, um céu azul coalhado de nuvens brancas, e, quanto a mim, estou andando numa estrada de chão, que parece não ter fim, o Sol está forte, me obrigando a parar pra me proteger na sombra das árvores que a margeiam, salpicando pelo meu caminho afora. Então, mesmo com tudo isto, estou me sentindo muito bem, tem hora que eu me pego levitando, porque a força gravitacional não me afeta, até porque meu corpo fica invisível quando faço estas viagens durante o crepúsculo, e, o interessante. é que nada, fisicamente, me atinge, tanto assim que, agora a pouco, um carro passou por dentro de mim, pois é, não é a primeira vez que isto me acontece, quando me pego nestas viagens crespuculares, onde escuto, vejo e sinto o cheiro de tudo, e, além do mais, não tenho tato e nenhuma necessidade biológica. Enfim, como eu disse acima, o lugar onde estou me é bastante familiar, agora, estou vendo uma igreja muito antiga se despontando aos poucos, no alto do morro, à minha direita, reconheço a dita cuja, porque agora estou vendo-a inteirinha, magestosamente, no topo de uma grande escada, cercada de palmeiras, tenho toda a certeza de que se trata da Igreja Nossa Senhora da Conceição, donde concluo que me encontro neste momento em Conceição da Boa Vista, distrito de Recreio-MG, terra natal do meu pai e da minha vó, já falecidos, embora aqui onde estou, eu os vejo, porque neste mundo crepuscular tudo é possível, e, por falar neste momento mágico, meu tempo está acabando, devo sair deste universo crepuscular, imediatamente, pra não ficar preso até o próximo da madrugada do dia seguinte, onde os demônios são mais frequentes, são 18:29.

NOTA: Minha filha ligou agora  no celular do meu neto, na mesma hora pensei na mãe dele, que faleceu, porque a música de chamada é muito triste e me lembra ela quando estava no hospital, eu acho que aí tem dedo da Monique.

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